#Resenha "Frankenstein ou O Prometeu Moderno", de Mary Shelley

O cientista Victor Frankenstein, nascido e criado em Genebra, tem um passado obscuro. Resgatado por um navio no norte congelado da Europa do século XIX, com a saúde debilitada e próximo à morte, encontra a chance de finalmente contar sua história trágica e sombria.

Quando jovem, sempre fora fascinado pelas ciências e sedento por realizar grandes feitos. Assim, ao entrar na universidade, inspirado por alquimistas do passado, deu início ao projeto que o assombraria para sempre: construir um corpo e lhe dar vida.

Apavorado diante do sucesso de criar um zumbi gigante e desfigurado, acaba por deixar o seu projeto escapar para o mundo, sem noção do que esse abandono causaria tanto a criatura quanto ao criador.

Mary Shelley (1797-1851) foi uma escritora britânica. Filha de um filósofo e uma escritora e casada com o poeta Percy Bysshe Shelley, sempre teve imaginação fértil. Frankenstein saiu de uma tarde chuvosa do casal passada na casa de Lord Byron (Dom Juan, Peregrinação de Childe Harold e Trecho de um romance), que desafiou todos os que lá estavam a escrever uma história de terror. E desse passatempo saiu uns dos três livros de maior referência quando o assunto é literatura de terror. Shelley tinha 18 anos na época.

Seria o homem, de fato, a um tempo tão poderoso, tão virtuoso e magnífico, e ainda assim tão perverso e torpe? Parecia às vezes um mero herdeiro do princípio do mal e noutras tudo o que se pode conceber de mais nobre e divino.

O livro é estranho à primeira vista. Para os leigos, "Frankenstein" não é o nome da criatura, na realidade ela nunca foi batizada. Não é mencionado nenhum assistente de Victor ─ ele criou seu monstro sozinho, do início ao fim. Em adaptações a criatura de Frankenstein é representada como um ser retardado, mas de retardada ela não tem nada. E ele não foi criado em um castelo ─ na verdade esse é outro livro...

Vamos à história.

Apesar de ter sido escrito por uma mulher, as moças têm pouco destaque ─ o que é compreensível, uma vez o gênero era pra lá de inferiorizado na época. Aliás, dificilmente há foco em personagens femininos em livros escritos antes de meados do século XX. Porém o trabalho de narração em primeira pessoa dos personagens masculinos é muito realista. Por conviver com muitos homens de ideias devido a morte prematura de sua mãe, sendo assim educada por seu pai, que fez questão de investir na educação da filha, Shelley tinha pensamentos à frente de seu tempo, e acredito que isso tenha colaborado para a naturalidade no desenvolvimento da narrativa.

Devo respeitar os homens quando eles me condenam? Se me fosse permitido conviver com os homens, numa relação cordial, em vez de danos eu lhes traria mil benefícios, com lágrimas de gratidão por ter sido aceito. Mas não pode ser assim. Os sentidos humanos são barreira intransponíveis para nossa união.

Frankenstein continua sendo uma história incrível, e apreciada pela crítica, sobre o desejo e busca do ser humano pelo segredo da vida, coisa que acontece até o dia de hoje. Há também a questão de como a maldade se constrói em um ser, como a rejeição e o preconceito podem transformar um coração bom e puro em um cheio de mágoas, ódio e rancor. É triste saber a origem do monstro ─ em momento algum tive medo dele. Talvez por me identificar um pouco, pude entender exatamente como ele se sentia. A verdade é que todos são capazes de amar da maneira correta mas, se não lhe for permitida a vazão do sentimento da forma correta, tudo isso pode se deformar.

Perfeitamente compreensível que Frankenstein seja considerado referência da literatura de terror.

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Sobre Claudia Carvalho

É proprietária e autora do OUL. Interessada em literatura e ficção desde a infância, acredita que conhecimento existe para ser compartilhado.

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